Só
eu sinto saudade de coisas que só aconteceram em minha imaginação?
Sinto
saudade de lugares em que nunca estive, de pessoas que não conheci, de sabores
que nunca provei, de amores que nunca tive.
Mesmo
em situações onde há dezenas de pessoas a minha volta, eu sempre consigo
escapar do marasmo e fugir para um lugar especial, cheio de aventuras, onde os
meus desejos se realizam e eu construo minhas histórias à minha maneira.
Desde
criança eu vivo em castelos lindos, caminho por praias espetaculares, visito
lugares exóticos, presencio grandes acontecimentos e encontro pessoas
extraordinariamente diferentes.
Quando
eu acho que já imaginei tudo que é possível, basta eu fechar os olhos e lá está
novamente o inimaginável.
Eu
consigo sentir os cheiros, a textura das coisas, os sabores. Consigo sentir o
vento, a chuva e o sol.
E
é uma nova vida a cada vez que eu sonho. Uma nova aventura.
Eu
posso ser o que desejar, em qualquer lugar e fazer parte das histórias que eu
bem entender.
Não
há limites para meus sonhos, para desejar. É um sem fim de sensações: alegria,
medo, ansiedade, raiva, vingança, amor, paz, tristeza, bondade, dor. Há vida
plena.
Minha
imaginação poderosa sempre foi minha companheira e hoje, as vezes, sinto
saudade de sonhar sem limites.
Mas
parece que na medida em que vou amadurecendo os sonhos vão se transformando.
Não mais a necessidade de viver algo quase que insuportavelmente imenso e com
doses gigantescas de emoções incontroláveis.
As
coisas simples e verdadeiras começam a me agradar.
A
sensação de estar protegida por uma dose exata de realidade me envolve cada vez
mais.
O
hoje tem se apresentado sempre melhor que o ontem, e o amanhã aparenta reservar
coisas palpáveis e atingíveis.
As
vezes me sinto um pouco culpada por sentir prazer na simplicidade. Mas ela me
convence a cada dia que muita imaginação me faz escapar entre os dedos as
surpresas do dia a dia. Muita imaginação não me permite usufruir do lado bom da
realidade, que é realizar.
O
sonho deixa um rastro de possibilidades infinitas.
O
real deixa um sabor doce de coisa pronta e construída.
Tenho
compreendido que o extraordinário talvez seja levar uma vida comum com alegria.
Mas
ainda há espaço para aventuras sem fim.
Presumo
que eu esteja apenas começando aprender a sonhar.
(Júlia
Bellini)