sexta-feira, 24 de maio de 2013

Imaginação




Só eu sinto saudade de coisas que só aconteceram em minha imaginação?
Sinto saudade de lugares em que nunca estive, de pessoas que não conheci, de sabores que nunca provei, de amores que nunca tive.
Mesmo em situações onde há dezenas de pessoas a minha volta, eu sempre consigo escapar do marasmo e fugir para um lugar especial, cheio de aventuras, onde os meus desejos se realizam e eu construo minhas histórias à minha maneira.
Desde criança eu vivo em castelos lindos, caminho por praias espetaculares, visito lugares exóticos, presencio grandes acontecimentos e encontro pessoas extraordinariamente diferentes.
Quando eu acho que já imaginei tudo que é possível, basta eu fechar os olhos e lá está novamente o inimaginável.
Eu consigo sentir os cheiros, a textura das coisas, os sabores. Consigo sentir o vento, a chuva e o sol.
E é uma nova vida a cada vez que eu sonho. Uma nova aventura.
Eu posso ser o que desejar, em qualquer lugar e fazer parte das histórias que eu bem entender.
Não há limites para meus sonhos, para desejar. É um sem fim de sensações: alegria, medo, ansiedade, raiva, vingança, amor, paz, tristeza, bondade, dor. Há vida plena.
Minha imaginação poderosa sempre foi minha companheira e hoje, as vezes, sinto saudade de sonhar sem limites.
Mas parece que na medida em que vou amadurecendo os sonhos vão se transformando. Não mais a necessidade de viver algo quase que insuportavelmente imenso e com doses gigantescas de emoções incontroláveis.
As coisas simples e verdadeiras começam a me agradar.
A sensação de estar protegida por uma dose exata de realidade me envolve cada vez mais.
O hoje tem se apresentado sempre melhor que o ontem, e o amanhã aparenta reservar coisas palpáveis e atingíveis.
As vezes me sinto um pouco culpada por sentir prazer na simplicidade. Mas ela me convence a cada dia que muita imaginação me faz escapar entre os dedos as surpresas do dia a dia. Muita imaginação não me permite usufruir do lado bom da realidade, que é realizar.
O sonho deixa um rastro de possibilidades infinitas.
O real deixa um sabor doce de coisa pronta e construída.
Tenho compreendido que o extraordinário talvez seja levar uma vida comum com alegria.
Mas ainda há espaço para aventuras sem fim.
Presumo que eu esteja apenas começando aprender a sonhar.
(Júlia Bellini)