segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Ponte



Quando entrei no Centro Cultural do Banco do Brasil em São Paulo, parecia que eu estava entrando em um filme.
Primeiro, o local é simplesmente maravilhoso, por dentro e por fora. Nem parece que a gente está no centro velho de SP, onde todos os lugares são imundos e cheiram a urina e onde a miséria está por todos os lados.
Aquele lugar, assim como o Teatro Municipal e todos aqueles prédios maravilhosamente antigos, parecem dar vida àquele Centro Velho, fazendo parecer que você está entrando num mundo diferente, principalmente aos domingos, quando a cidade está vazia e tranquila.
O CCBB é um espetáculo a parte. Primeiro, porque ali existem dezenas de portas, saídas, escadas, câmaras por onde você tem que passar para chegar a cada ala da Exposição. Parece um labirinto, e a gente perde a noção de longe, perto, alto, baixo. Mas quando você transpõe a primeira etapa e uma portinhola que parece que vai dar no nada leva você a um magnífico quadro de James Tissot, “The Ball”... Uau! 
Eu voltei no tempo aos teatros franceses do século 19, onde a alegria, o canto e a luxúria tomavam conta do ambiente.
Parecia até que eu estava no Molin Rouge, vendo aquela gente, os homens muito bem vestidos usando cartola e as mulheres....Ah! As mulheres! Quanta feminilidade, como eram sensuais e como brilhavam aos olhos do artista!
Aquele mulher no vestido amarelo me paralisou. Parecia que eu estava lá, de tantos ricos detalhes naquela pintura única. Era só o primeiro quadro.
Acho que o impacto é tão forte que as dezenas de pessoas que circulam por ali falam em tom respeitosamente baixo, sussurrando, como se falar alto de certo modo acordaria aquelas personagens dos quadros e a magia se desfizesse como por encanto.
Um Degas aqui, um Renoir ali, outro Van Gogh acolá, um Cezzane a mais... e finalmente... “A Ponte”, de Monet.
Quando eu entrei naquela parte da Exposição, a galeria fazia uma curva estreita para a direita e havia quadros maravilhosos de Monet. De longe eu vi o meu preferido. 
Fiquei ali observando cuidadosamente os outros quadros, mas meu coração até batia mais forte na expectativa por aquele momento, e ainda assim demorei o máximo que pude para chegar até ele. Eu estava com a respiração suspensa quando finalmente fiquei "há três passos do paraíso!" Do meu paraíso.
E suspirei. Nunca em minha vida, achei que um dia teria a oportunidade de ver este quadro assim, de pertinho, nos mínimos detalhes e pelo tempo que eu quisesse. Eu queria que o tempo parasse ali, só para eu poder ficar uma pequena eternidade admirando aquelas cores e aquelas luzes.
Fiquei parada ali embabascada e não vi mais nada e mais ninguém. Somente aquele jardim maravilhoso e eu.
Foi o céu!
E o céu é isso. Uma pequena felicidade que transborda de você e paralisa o tempo. Um suspiro, um frio na barriga por aquele momento ser somente seu, não importando quantas pessoas estão ao seu redor.
Fiquei olhando fixamente para aquela pintura maravilhosa tentando decorar cada pedacinho dela. Cada cor, cada tom, cada luz.
Perdi até a noção do tempo.
E quando me despedi daquela obra prima, eu levei comigo toda a magia que ela me proporcionou... para sempre.
(Júlia Bellini) 

2 comentários:

  1. Sao Paulo e paradoxal como imagino que sejam todos as megalópoles...amo minha cidade em toda sua feiúra e esplendor

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